Amor, Agonia, e Neons Roxos
O dia poderia ter começado normal, como qualquer outro, mas ler aquela mensagem no celular quebrou meu coração e minha mente.
"Notou que Kitsu sumiu, não é? Nós fomos os responsáveis. Siga as instruções, e você terá seu namoradinho de volta."
Senti meu coração acelerar, e minha cabeça girou. Sentei na cama para não cair. Senti meus olhos se encherem d'água. Levei a mão à boca para abafar meu lamento. A agonia residia dentro de mim. Depois de um tempo, consegui me recompor. Bebi o resto de água que tinha em minha garrafa, me levantei, e fui até a janela. Olhando pela janela larga e opaca, só conseguia observar o fluxo enorme de carros voando sobre a avenida, em meio a tantas luzes dos anúncios da cidade, que mesmo pela manhã, conseguem ser incrivelmente chamativos. Peguei o celular novamente.
"O que vocês querem comigo? Quais as suas condições?"
Eu ainda tremia muito, mas eu precisava ser forte, pelo Kitsu. Procurei ficar o mais calmo possível, ou então, não conseguiria raciocinar direito. Mas imaginar que o garoto que amo foi raptado por um desconhecido que sabe quem sou eu me deixava a ponto de surtar. Logo, a notificação chegou:
"Ah, nada demais... Sabemos que seu pai está desenvolvendo uma nova tecnologia para aprimoramento biológico humano. Nós só queremos que você nos entregue informações sobre esse trabalho. Simples, não é? Use um módulo de transferência G5, pois sabemos que os arquivos são grandes. Leve tudo isso para o galpão ao lado da Boate Black Blood, às 22:00. E sem gracinhas, pois sabemos como lidar com moleques como você."
Um calafrio percorreu meu corpo. Senti minhas pernas vacilarem. Me apoiei na parede, olhando para a tela do meu celular. Eu não tinha escolha. Eu teria que entregar tudo pra eles. A corporação que resolva esse problema! O Kitsu é mais importante.
Passei a manhã pensando no que fazer para conseguir os dados do projeto, até que lembrei que grande parte desse conteúdo estava no computador principal da casa, onde meu pai sempre trabalhava. Após o horário de almoço, que era quando todos saíam de casa, com exceção de minha pessoa, que ficava estudando ou jogando, fui até o computador central. Após alguns erros de senha, consegui acessar, para então, descobrir que todos os arquivos do projeto que ali estavam foram recentemente transferidos para um módulo G5. Talvez meu pai tivesse levado para a sede da corporação? Quem sabe? Independente de qualquer coisa, eu tinha que conseguir aqueles dados. Ao cair da noite, arrumei uma mochila com água, meu canivete à laser, e uma única granada portátil de luz, que sinceramente, não lembro o motivo de ter uma. Já era por volta das 19:00, e logo que saí do prédio em que moro, me deparei com um grande número de pessoas circulando pela rua. Em meio a propagandas de neon roxo, azul, e vermelho, telões gigantes, carros voadores e hologramas, meu coração ficava cada vez mais apertado. Percorri as ruas com pressa, até chegar na sede da corporação Yamanaki. Como todos me conheciam ali, não era difícil de entrar no prédio. Rapidamente, subi até a sala do meu pai, onde ele passava grande parte de seu tempo pesquisando e elaborando soluções para aprimoramento humano, ou como chamam popularmente: ciborguear. Ao entrar na sala, vi ele sentado à frente das inúmeras telas que compõem seu computador. Cumprimentei, e sentei, tentando não transparecer meu desespero. Após um tempo de conversa, me aproximei da mesa, e sem que ele percebesse, puxei o cabo que ligava o telefone de comunicação interna. E após isso, fingi que estava passando mal. Ele logo veio ao meu socorro, e quando foi chamar os funcionários pelo telefone, não teve êxito. Logo, ele correu para buscar algo para me ajudar, e essa foi minha deixa. O módulo G5 estava conectado ao computador. Rapidamente, peguei, e o escondi em minha mochila. Voltei ao meu posto de encenação, e esperei que meu pai voltasse. Ele me trouxe um copo d'água e uma cápsula reanimadora. Tomei, e logo disse que estava bem. Disse a ele que iria pra casa, e assim ele acatou. Saí de sua sala, e rapidamente, desci o corredor, em direção ao elevador. Agi calmamente dentro do prédio, até sair de lá.
Rapidamente, corri para o local de encontro, que ficava um pouco longe de onde eu morava. Acabei esbarrando em muitas pessoas pela multidão, mas tinha a sorte de estar usando meus tênis gravitacionais, que me permitiam saltar mais alto que o normal. A pressa se unia ao meu nervosismo, e ao fato de que eu acabara de mentir para meu pai, cometendo uma traição gigantesca. Tudo aquilo me deixava muito abalado, mas eu tinha que prosseguir. Eram quase 22:00, quando cheguei ao galpão. A entrada ficava no beco ao lado da boate. Entrei no beco, e me encostei na parede, esperando o horário correto. Ao parar, percebi que estava tremendo muito, e mais uma vez, minhas pernas vacilaram. Deixei meu corpo cair, e sentei-me no chão, tentando ficar calmo. E assim fiquei, até que alguém veio falar comigo:
-Levanta garoto. O chefe tá esperando você.
Levantei, e segui o homem, que vestia roupas pretas, e um capuz que cobria bastante seu rosto. Ao entrar naquele enorme galpão, me deparo com uma série de carros estacionados, e pessoas vestidas como se fizessem parte da máfia. Eu simplesmente não conseguia acreditar que a Yakuza era responsável por tudo aquilo. E então, eu o vi: Kitsu. Ele estava de joelhos, amarrado por cordas elétricas, e com uma mordaça na boca. Logo, o chefe apareceu.
- Bem vindo, Ichiro. Achei que você não viria... Muito corajoso de sua parte trair seu pai assim, só pra salvar a vida do seu namoradinho. - ele se aproximou de Kitsu, e retirou a mordaça de sua boca. - Agora... Entregue o projeto do seu pai, e eu devolvo seu Kitsu. E não se preocupe, sou um homem de palavra. Tudo ficará bem.
Hesitei por um instante. Pensei em sacar meu canivete, e esfaqueá-lo num surto de loucura, mas sabia que seria morto. Tirei o módulo da mochila, e entreguei ao mafioso. Assim que ele o recebeu, ele acenou para seus capangas, que soltaram Kitsu. Ele correu em minha direção, e me deu um abraço. Sentir seu calor era acolhedor, me fazia ficar calmo. Tudo parecia resolvido, até que o chefe mafioso disse:
- E agora, com isso, finalmente poderei dominar Tóquio por completo, pois nenhum robô policial poderá vencer sua própria tecnologia. Obrigado Ichiro. Você entregou a Yamanaki e Tóquio em minhas mãos.
Gente, desculpa a narração mal feita dessa história, é minha primeira vez tentando escrever flash fiction dentro da regra das mil palavras. Mil perdões.
você escreve muito bem, eu estou amando os one-shots, espero que você continue publicando ❤
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